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Festa de Vampiro no Brasil

"Dizem que vampiros cultuam a morte, mas na verdade, eles cultuam a vida."

- Lord A

Ao dar o nome na entrada, o casarão que estava escondido atrás do muro com detalhes de metal, se revela numa rua da Bela Vista. O estilo neoclássico da mansão chama atenção no primeiro momento em que nossos olhos veem, abóbadas e pilastras que por um segundo, parece que estamos longe da grande metrópole cinzenta cheia de prédios que é São Paulo. Um belo jardim com um caminho que lhe guia para uma escadaria que o transporta para outro século. Luzes coloridas transformam o ambiente, com uma marcante presença de lilás e vermelho.  A imersão de fato acontece nos primeiros passos quando adentramos de fato a casa. Com diversas pessoas se misturando, novamente, tudo combina com a aura do local. Os vitrais coloridos da parte interna chamam atenção, flores marcam presença aqui e ali, mas outra coisa também notória é o sentimento de comunidade naquele local. 

Enquanto todos entravam às oito em ponto da noite, havia uma outra ansiedade que pulsava em cada um: o encontro anual com os organizadores da festa e líderes do círculo Strigoi que os vampyros seguiam, Lord A e a Rainha Xendra Sahjaza. Enquanto todos esperavam, já que eles sempre faziam uma entrada glamourosa antes da festa começar de fato, alguns salgados e vinho eram servidos. Ao mesmo tempo que alguns já se conheciam e cumprimentavam os que já viram em edições passadas da festa Carmilla, outros iam pela primeira vez, e não necessariamente por serem parte da comunidade vampírica. 

Muitos ali eram curiosos. Se encantavam pela estética gótica ou por vampiros. Como é o caso de Janaína Bordinhão, de 22 anos, que olhava atenta todos os detalhes da decoração, ansiosa para ver as apresentações que teriam mais tarde. O que lhe chamou atenção na festa foram justamente os elementos góticos. “Espero conhecer pessoas com interesses parecidos com os meus.” Contou. “O baile gótico também é algo que estou curiosa, quero muito ver.”

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O mesmo vale para o casal, Carolina Freiri e Arth Pirani, ambos de 21 anos. Artie conta que sempre se interessou por vampiros, fascinado por literatura gótica, sendo Drácula o seu livro favorito. Artie conheceu a festa primeiro, e decidiu levar Carolina junto, já que também era um interesse dela. “Sempre gostei de vampiros, desde pequenininha, nem sei porquê. E bem, agora estamos aqui para vivenciar essa cultura que nem sabia que tinha no Brasil.” Relatou Carolina. Os dois são de Campinas e viajaram para a capital paulistana no mesmo dia para viver a experiência de um baile vampírico e o mais perto que teriam dessa imersão no mundo vampírico.  

A cada pessoa era oferecida uma taça de vinho tinto ou o branco. Simbolizando sangue, os convidados escolhiam qual deles desejavam provar. O Redivivo, o vinho feito pela Rede Vampyrica (criada por Lord A e Rainha Xendra), é produzido somente duas vezes no ano por uma família no Rio Grande do Sul. A família conheceu o trabalho de Lord A e por possuírem uma vinícola, decidiram fazer um vinho para o casal. 

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Depois de quase vinte minutos de espera, quem está no casarão é convidado por um anfitrião a se locomover para uma parte mais interna do salão e é exatamente aí que a experiência mágica começa. Com um canto lírico, parece que somos levados para uma ópera italiana de séculos atrás. A cantoria preenchia o ambiente com a voz de forma que deixava todos impressionados.

Janaina Bordinhão

 Foto: Barbara Barbosa

Carolina Freiri e Arth Pirani

 Foto: Barbara Barbosa

Vinho feito pela Rede Vamp

Foto: Barbara Barbosa

Após a apresentação, somos levados para a parte principal que dá em uma escadaria, onde era esperado que Lord A e Rainha Xendra Sahjaza. Antes de descerem, um homem diz muito a respeito dos dois. Chamando atenção daqueles que se identificam como vampiros e também os curiosos, que estão ali pela primeira vez. Em meio de tanta atenção, finalmente, o rei e rainha vampiros são chamados para descer as escadas e ver o seu público.

Ambos com máscaras, de acordo com o tema veneziano, a rainha dos vampiros descia com um vestido de saias bufantes, preto. O cabelo vermelho flamejante em um coque alto e parte do rosto escondido numa máscara de renda, parecia que havia saído diretamente de um romance gótico ou pelo menos a ideia que temos de uma vampira fatal. Quando observada mais de perto, era possível ver as suas presas. O rei, tão arrumado quanto, com o longo cabelo castanho loiro solto e uma máscara. Os dois também carregavam tridentes. Agradecidos pela vinda do público. “Nesse encontro muito especial, nos vemos nos olhares uns dos outros. Dizem que as máscaras escondem, ou revelam um lado de nós. Mas, até o amanhecer emergir do horizonte, nesta longa noite, essas máscaras expressam nossas verdades.” Disse Lord A num breve discurso.

O discurso terminou e o casal caminhou até o espaço que todos estavam anteriormente e deram início oficialmente às apresentações. Duas apresentações de dança do ventre aconteceram. A primeira dançarina aparece vestida de preto, representando as trevas e começa a sua performance envolvente. A segunda, logo em seguida, representando a luz, vestida de branco e com o rosto pintado em vermelho. Ambas com os movimentos de  braços e mãos tão tecnicamente perfeitos que seduzem o público juntamente à música. 

 

Em meio aos aplausos, Lord A e Rainha Xendra convidam todos à sacada na entrada da mansão. Nesse momento, é tirada a tradicional foto da festa Carmilla. Com suas taças de vinho estendidas ou não, todos participavam da foto que gravaria o momento. Após esse momento, alguns brevemente falavam com Lord A e Rainha Xendra, pessoas que sempre frequentaram e, outros, mais tímidos por ser a primeira vez.

Guiados por um corredor iluminado cheio de luzes, entram no grande salão, onde a parte principal da festa aconteceria. Tudo estava vermelho iluminado pelas luzes internas e uma projeção de castelo sombrio na parte próxima do palco. O salão também tinha diversas mesas onde grupos de até sete pessoas sentavam juntos, conhecidos ou não. Quando todos se acomodaram, Lord A e Rainha Xendra Sahjaza foram para o palco, anunciando o início das apresentações na segunda parte da festa. Para começar o baile gótico, uma apresentação de violino da música tema de “O Fantasma da Ópera”.

 

Assim que a melodia preencheu os ouvidos de quem estava presente, diversos casais presentes começaram a dançar valsa. Os corpos balançavam de um canto para o outro, no ritmo da música que deixava o ambiente mais chique, sem perder o tom misterioso. A música atraia quem ouvia, a intensidade da letra original no solo de violino, que combinava com o goticismo do ambiente e nos levava diretamente para um grande baile de época, era improvável alguém tirar os olhos de quem tocava o instrumento ou daqueles que dançavam. Além do violino, houveram mais apresentações de dança de ventre, um solo de violão acompanhado por tango entre um casal de bailarinos. 

 

O sentimento que preenchia a noite era de pertencimento. Apesar das máscaras que vestiam com a temática do baile, aquele era um lugar para que as máscaras psicológicas caíssem e todos pudessem ser eles mesmos. Essas pessoas não seriam julgadas, independente de sua origem, orientação sexual, gênero ou etnia. Essa era uma regra clara do vampirismo. 

Além dos curiosos, estavam ali também os que frequentavam a festa há bastante tempo, como Tainã Ubajaque, de 37 anos. Ela já tinha participado de alguns eventos com Lord A, conheceu a festa Carmilla e decidiu comparecer. O seu interesse por vampirismo vem de seu vínculo com a bruxaria, onde conheceu Lord A há sete anos atrás. 

Junto a ela, veio o seu amigo B. Nascimento, de 39 anos. Ele diz que sempre se sentiu atraído pela figura do vampiro e agora, por conta de Tainan, quer descobrir mais sobre esse tema. 

Agne, de 35 anos, disse que se interessa muito pela cultura. Sentada na mesma mesa, oposta à Tainan, também não era a primeira vez na festa, marcando presença desde 2019 e, conheceu o vampirismo a partir da bruxaria na qual era praticante.  Ao seu lado, estava sentado Walter, de 47 anos, o que o atraiu foram principalmente os aspectos psicológicos transversais, ou seja, a relação de corpo e mente. Sua curiosidade sobre a criatura começa a partir do momento que percebe nela, a ideia de inconformação de padrões e ir contra o esperada na sociedade.

Ao mesmo tempo, do lado direito da mesa, perto de Tainan, Carina, de 23 anos, estava lá pela primeira vez e sempre se interessou no arquétipo do vampiro. Apesar de usar presas longas nos caninos, ela não vive dentro da subcultura, mesmo assim, não deixa de ser apaixonada pela estética. Se interessa em vampiros desde criança, recordando da época de Crepúsculo estava em alta e foi descobrindo as diferentes facetas desse mito.  

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Em meio da conversa, as pessoas iam se distraindo e sendo servidas salgados diversos e opções de bebida. Quando deu quase onze horas, o buffet foi servido e depois disso, a festa de fato começou. Com a banda feminina Yon, que canta canções pagãs nórdicas, combinando com o misticismo da festa. Além disso, também houve apresentações de DJs que deixaram o ambiente mais dançante ainda.  

 

A Festa Carmilla, apesar de parecer nichado, deixa nítido que para muitos – tanto os que já conheciam, quanto os novos potenciais frequentadores– representa um lugar de acolhimento, onde todos podem se conectar por conta de um interesse em comum da qual tem diversas interpretações. Pessoas que não se conheciam, conversavam e elogiavam as vestes das outras. 

 

Para quem adquiriu o ingresso de entrada a partir das oito da noite, além da entrada antecipada, com apresentações exclusivas, também tinha direito ao buffet, com diversas opções de comida, com opções vegetarianas. O valor foi de 385 reais unitário, com opção a partir de 600 para entrada em casal. Para aqueles que queriam desfrutar somente da festa, a entrada foi a partir das 11 da noite com ingresso de 160 reais.

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