top of page
holy-week-celebration-vivid-colors_edited.jpg

FÃS: OUTRA FORMA DE FASCÍNIO

Apesar dos vampiros terem sido construídos como uma forma de doutrinar e estimular a cristianização do leste europeu, com diversas menções de serem os não batizados e gerar pânico por muito tempo na população local do leste europeu. Hoje em dia, após diversas interpretações dessas lendas, os vampiros reúnem uma legião de fãs. 

Yasmim Fernandes, de 24 anos, sempre gostou muito de filmes de terror. Assistia o filme ‘Blade’ de 1998, e ‘Van Helsing’ de 2004, a partir daí se viu encantada com a figura de vampiros. 

Apesar de hoje em dia não ter muitas séries e filmes com a temática – isso é, na mesma quantidade que foram feitas até os anos 2010 – Yasmim continua consumindo o tema reassistindo filmes e séries de vampiros, a sua favorita é a série da HBO de 2008, True Blood. 

A série conta a história de um mundo onde os vampiros vivem entre os humanos. Eles podem sofrer preconceito por isso, mas ainda existem, e essa convivência foi estabelecida a partir da criação de um sangue sintético chamado ‘Tru Blood’. 

“A figura do vampiro tem um misticismo” comentou. “É tão interessante ver que eles não são presos a regras como nós somos. Eu gostaria de ser assim.” Yasmim também diz que se encanta com a variedade de elementos do vampiro, indo desde algo mais sombrio para o mais sensual. 

A liberdade dos vampiros para ela vai além de querer fazer o que bem entender. Yasmin fala no sentido de gênero, a insegurança que é ser mulher nos dias de hoje.“Eu adoraria poder sair à noite como eles. Sem ter medo de ser assaltada, morta ou de alguma coisa acontecer comigo. A gente sofre tanta coisa, tanto assédio e machismo.”

“A mulher tem que fazer isso e aquilo, não pode se comportar de tal forma, e os vampiros são desconexos dessa realidade, não precisam seguir essas regras.”

 – Yasmim Fernandes

Além disso, Yasmim se vê como uma pessoa melancólica. Não considera isso necessariamente ruim, mas não tem uma família grande, se considera uma pessoa sozinha, sem muitos amigos. Diz que a figura do vampiro é importante por se enxergar nele, quando falamos da solidão, por serem criaturas da noite e não poderem sair pelo dia, isso os torna reclusos. E, até, a forma de socialização do vampiro, por não serem descritos como seres que andam em bando, como acontece com outras criaturas como os lobisomens e bruxas. 

Esse aspecto do vampiro a ajudou a se entender melhor. Aos 13 anos, ela conta que se sentia muito sozinha, e começou a ver páginas no Facebook sobre vampiros. “Foi tão importante para mim entender que eu era uma pessoa mais retraída através da figura do vampiro. Chega uma idade que precisamos ter uma referência parecida conosco, e por mais que o vampiro seja uma figura que não existe, eu fico feliz em entender.” 

Yasmim se auto declara como parda e chama atenção para a representação negra nos vampiros. “A gente cresce pensando que os vampiros são pessoas brancas, muito pálidos. Eu cresci vendo majoritariamente vampiros brancos. Mas vendo A Rainha dos Condenados, Blade, eu achei essa representatividade bonita para mim.” 

MV5BMTU3MjU5ODcyNV5BMl5BanBnXkFtZTcwNjM1MDUyNw___edited.jpg

Já Adriane Bárbara, de 21 anos, teve o seu primeiro contato com esses seres com o filme ‘Drácula de Bram Stoker’ de 1992. Brinca que tem noção que assistiu cedo demais e que não era para a sua idade, mas assistiu junto à sua mãe, que gostava muito desse tema e tinha o DVD. 

 

Sua mãe, inclusive, influenciou muito por gostar de coisas mais alternativas como vampiros, lobisomens e bruxas. Hoje em dia, seu contato com a figura vem principalmente de filmes e séries. “A partir do momento que eu comecei a adentrar nesse mundo, eu fui procurando vários filmes, livros e séries, alguns que eu gostei e outros que não.” 

Entre os seus livros favoritos estão: ‘Deixe ela entrar’ do escritor sueco John Ajvide Lindqvist, ‘Drácula’ de Bram Stoker e ‘As Crônicas Vampirescas’ de Anne Rice. 

Livro de “Drácula” e DVD de
“O Drácula de Bram Stoker”
Foto: Adriane Bárbara

Entre os filmes, destaca a adaptação de ‘Entrevista Com o Vampiro’ e ‘Quando  Chega a Escuridão’ de 1987 da diretora Kathryn Bigelow. 

O que lhe atrai no vampiro é, principalmente, ser uma criatura mística que parece humana mas não é. “Além disso, ele tem que conviver com o vício [de sangue]. Ele vai ter que levar a imortalidade dele no vício. E eu gosto muito de como a figura do vampiro tem ligações com a nossa existência.” 

Também vê uma relação com o nosso cotidiano. Uma dessas relações, já mencionada que é o vício, e a outra sendo uma metáfora para o despertar sexual. Para ilustrar melhor a metáfora para o vício, Adrianne cita o filme “O Vício” do diretor Abel Ferrara, lançado em 1995. 

Além disso, diz que o vampiro nos ajuda a nos desenvolver como indivíduos ao entendermos com eles diversas questões, como por exemplo, a maneira na qual nos portamos na sociedade. 

Apesar dessas analogias, Adriane também conta que tem medo de morrer, e que o vampiro a impactou de forma negativa. Ele impulsiona essa questão de forma negativa, a gerando ansiedade. Ao mesmo tempo, também ajudou a se entender como pessoa não binária e bissexual. “Lendo os livros da Anne Rice, eu me conciliei com meu gênero e a minha sexualidade.” 

Nas obras de Anne Rice, a maioria da orientação sexual dos vampiros é ambígua, e sempre foi claro que Louis e Lestat tinham um romance, principalmente por serem baseados no casamento da autora. 

“Eu comecei a equilibrar essa parte ruim e boa, quando eu coloquei a cabeça que vampiro não existe. Teve um impacto positivo mas também negativo. Só que essa parte negativa, vai diminuindo conforme vou amadurecendo.”

O-Vício-1995-2.jpg
71uPPT8QB2L._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg
bottom of page